Retrospectiva 2023
Os principais fatos da arquitetura e urbanismo do ano foram a pauta do episódio
No final do ano passado a equipe do Betoneira sentou para conversar sobre as principais notícias do mundo da arquitetura e urbanismo em 2023. No Brasil, 2023 começou com a arquitetura nas manchetes dos jornais: parte dos palácios de Brasília foi depredada por grupos que não aceitaram o resultado da eleição de 2022 e, de forma criminosa, vandalizaram o patrimônio público do país. As imagens foram chocantes e, felizmente, muitos dos responsáveis foram condenados pelo Superior Tribunal Federal.
A arquitetura também ganhou âmbito nacional com o exame do ENEM que aconteceu em novembro. A arquiteta Lina Bo Bardi foi tema de uma das perguntas e, embora algumas críticas tenham apontado que a questão estava mal formulada, o fato é que a arquitetura ganhou espaço nessa prova que é realizada por estudantes de todo o país.
Em 2023 o Betoneira gravou mais de vinte conversas, sempre com o objetivo de falar de arquitetura de um jeito leve, descomplicado e novo. Cinema e Carnaval de Rua, os 20 anos da Escola da Cidade, arquitetura do Japão, a força das periferias e habitação para todos foram alguns dos temas. Além disso, falamos de arquitetura e a comunidade lgbtqia+, arquitetura e mercado imobiliário, design e os direitos dos fotógrafos. Até os quadrinhos deram as caras em 2023! E o Betoneira ganhou um estúdio próprio e está animado para 2024.
A conversa entre Marcelo e André começou com o IAB na pauta. Em 2023, o Instituto de Arquitetos do Brasil comemorou aniversário; a data é importante para lembrar a história do instituto e planejar os passos futuros. O IAB em São Paulo comemorou 60 anos e o Betoneira inclusive conversou com alguns de seus representantes.
É claro que uma restrospectiva também traz fatos desanimadores e perdas. A demolição do Pavilhão do Anhembi, projetado por Jorge Wilheim, foi lembrada pelo André e pelo Marcelo; ambos enfatizaram que a sanha pela privatrização a qualquer custo destrói a memória da cidade.
A polêmica revisão do Plano Diretor em São Paulo deu muito pano para manga em 2023; mesmo com as críticas, ela foi aprovada. “A revisão foi mal conduzida por uma Prefeitura que, ao meu ver, é imediatista”, disse Marcelo. Vale lembrar que o Plano Diretor define as diretrizes que serão colocadas em prática na cidade durante algum tempo, e é preciso pensar no longo prazo. A revisão foi feita “entre paredes”, sem debates qualificados ou participação da população. “Os prédios que estão sendo construídos não precisariam ser tão altos; isso piora demais a questão climática, criando zonas de calor.”
Outra polêmica de 2023 foi o anúncio da mudança do Museu da Casa Brasileira, que ficava em um casarão na Avenida Faria Lima, o solar Crespi Prado, em São Paulo. Em abril de 2023 saiu a notícia de que o Museu da Casa Brasileira passaria a funcionar na Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik. De acordo com as últimas notícias, a reabertura só acontecerá em 2025, marcando a primeira mudança de endereço do museu em 50 anos. Esse hiato todo traz à tona uma questão importante: será que não precisamos de outros museus e instituições que se dedicam à preservação e promoção da arquitetura e do design brasileiros?
A abertura da Pina Contemporânea, projetada pelos Arquitetos Associados, ocorreu em 2023. O projeto sofreu várias mudanças e a engenheira que participou do processo, Heloisa Maringoni, foi uma das convidadas do podcast em 2023.
Em 2023 perdemos o encenador, dramaturgo e diretor Zé Celso Martinez Corrêa, que esteve à frente do icônico Teatro Oficina por décadas. Recentemente fizemos um episódio com Camila Mota, artista integrante do Oficina. Ela falou sobre esse novo momento do coletivo e também sobre como é experimentar o espaço do Teatro Oficina - projetado por Lina Bo Bardi e Edson Elito - sob o ponto de vista de uma atriz e performer.
O arquiteto e designer gráfico João Carlos Cauduro também faleceu em 2023. Ele foi um dos nomes mais conhecidos do design moderno e quase todo brasileiro e brasileira já viu um trabalho seu. Ele é responsável pela identidade visual do Banco do Brasil, da TV Cultura e do Metrô de São Paulo, só para citar alguns exemplos.
Danilo Santos de Miranda nos deixou em 2023; ele foi responsável por transformar o SESC São Paulo em uma instituição comprometida com a cultura e a educação.
A fotógrafa Ana Mello e a roteirista Livia Piccolo participaram do segundo bloco da conversa, que começou com a questão climática. Ana contou como é difícil sair para fotografar arquitetura em dias de calor extremo; o equipamento esquenta e as possibilidades fotográficas ficam reduzidas. “Foi a primeira vez, em dez anos, que cancelei um trabalho, era impossível ficar do lado externo e as fotos aéreas ficariam sem ninguém, o Minhocão estava vazio por conta do calor.”
A tragédia que ocorreu no show da cantora Taylor Swift, no Rio de Janeiro, também foi por conta de decisões relativas à arquitetura. “A pessoa faleceu por conta do calor, mas é preciso lembrar da arquitetura: a organização do show fechou trechos do estádio que são importantes para a ventilação para impedir que as pessoas de fora pudessem assistir; além disso, o piso foi feito com um material metálico que aqueceu”, André lembrou. “As pessoas que sentavam no chão para esperar ficavam com queimaduras.”
Pra terminar, o Betoneira fez algumas menções importantes. Na Bienal de Arquitetura de Veneza, o Pavilhão do Brasil ganhou o Leão de Ouro. A exposição Terra, com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares, apresenta o Brasil como um país diaspórico, com grandes contribuições das culturas afrobrasileiras e indígenas. A Gabriela de Matos já foi entrevistada aqui no Betoneira também. A segunda menção foi para a republicação do livro Brazil Builds: arquitetura moderna e antiga (1652-1942), lançado na ocasião da exposição homônima organizada pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque em 1943. Ele foi reimpresso outras três vezes naquela década, nos Estados Unidos, em razão do sucesso alcançado; a exposição também teve êxito e passou pelos Estados Unidos, pelo Brasil, e foi apresentada em menor escala no Canadá, no México e na Inglaterra. Esse livro é considerado uma obra de referência, que apresentou a arquitetura brasileira para o mundo. Ele foi republicado em 2023 pela editora Ikrek.
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