O Betoneira está no Spotify e em outros agregadores de áudio e também no Youtube! Nosso canal está crescendo e você pode assistir aos nossos vídeos por lá também. Se ainda não se inscreveu, este é o link. Na newsletter de hoje falaremos sobre a conversa com Juliana Braga, pesquisadora do legado do incrível e inspirador Flavio Motta.
Marcelo e André perguntaram para Juliana Braga como nasceu sua curiosidade na trajetória do Flavio Motta. Braga respondeu dizendo que sempre teve muito interesse na relação da arquitetura com as artes plásticas - quase foi estudar artes na graduação. “Gosto dessas aproximações entre áreas e o Flávio era uma figura notória. No contexto da FAU-USP todos falavam dele.”
Embora os professores e arquitetos abordassem a importância de Flavio Motta, não havia, até então, registros e pesquisas sobre seu trabalho. Juliana Braga contou que sua investigação nasceu da vontade de organizar esse material e criar um caminho mais acessível para as novas gerações conhecerem o trabalho dele. Juliana Braga e Flavio Motta tiveram bastante contato num certo período, e ela viu ali uma oportunidade. Decidiu, então, fazer sua dissertação de mestrado.
“Comecei a partir do interesse em estudar a aproximação do Flávio com os arquitetos; procurei os projetos que ele fez em parceria com o Paulo Mendes da Rocha e o Vilanova Artigas.”
Já no doutorado, Juliana Braga percebeu alguns buracos na pesquisa. Dessa forma, ela foi abrindo outros temas, incluindo a trajetória de Flavio Motta no ensino. A pesquisadora escutou diversos depoimentos de ex-alunos e ex-colaboradores, e, segundo ela, “todo mundo tem um lugar emocionado ao falar dessa experiência, a gente consegue compreender o quanto a formação com Flavio Motta foi transformadora; todos os depoimentos vão um pouco nesse sentido.”
É muito comum pensar que o Flávio era arquiteto. Ele esteve ligado aos arquitetos e à formação da arquitetura durante muito tempo, mas na verdade ele foi artista e professor. “Ele estudou pedagogia e isso é uma coisa muito importante porque esse lugar de professor funciona como a síntese entre tantas facetas de atuação do Flavio.”
A relação entre prática e teoria foi outro tópico abordado na conversa. Segundo Juliana Braga, essa relação atravessa a contribuição dele nesses campos de ensino. “Ele procurava aproximações entre a técnica e a arte e acreditava que alguns conhecimentos só são possíveis a partir da prática, só nascem dali.”
Ao falar sobre sua formação artística nas décadas de trinta e quarenta, Juliana Braga citou as experiências de Flavio Motta no MASP, MAM e junto ao escultor José Cucé, no Sindicato dos Artistas Plásticos, no Palácio de Santa Helena. “Tem uma coisa bonita na convivência com esses artistas paulistas, a relação com o fazer; esse é um grupo que encara a arte como trabalho, como ofício, e que vai, de fato, explorar e desenvolver uma linguagem muito particular.” No MASP Flavio Motta fez cursos de história da arte com Pietro Maria Bardi e defendeu a ideia do Museu de Arte de São Paulo como um espaço ao mesmo tempo vivo e de formação. Ele também cuidou das exposições temporárias, fazendo a montagem das mostras e recebendo artistas como Saul Steinberg, Max Bill, Burle Marx, entre outros.
Juliana Braga falou sobre o sentido renovador do que Flavio Motta propôs na FAU-USP, levando em conta as características dos cursos de formação de arquitetura no Brasil. “A partir de 1962, junto com outros professores, ele pensa um curso de arquitetura que tem um caráter diferente do que era feito no país.” Trata-se de uma renovação profunda; esse movimento vai influenciar e servir de modelo para todos os cursos de arquitetura que se formam no Brasil dali pra frente. Flavio Motta traz esse lugar da arte como algo que integra, de fato, um projeto distinto dentro dos cursos de arquitetura. “A partir dele o ensino da arte na arquitetura deixa de ser uma coisa informativa ou como repertório e passa a ser um lugar de educar a sensibilidade.”
“Flavio Motta desejava construir junto com os alunos um jeito diferente de olhar as coisas.”
Quem é Juliana Braga: Arquiteta, mestre e doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Foi arquiteta colaboradora e associada aos escritórios SPBR arquitetos (2004-2014) e Vereda arquitetos (2015-2019). Foi professora de projetos na FAU-USP entre 2019 e 2022 e é professora no Mackenzie e na Escola da Cidade, onde também coordena o programa Escola Itinerante.