Os 80 anos do IAB em São Paulo
O percurso do IAB, as proposições da nova gestão e a Bienal de Arquitetura foram tema da conversa
O IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) em São Paulo completou 80 anos em 2023. O Betoneira recebeu Raquel Schenkman, Kaísa Isabel e Victor Próspero para uma conversa sobre a história do IAB, as mudanças promovidas pela gestão atual e o papel do IAB para os arquitetos e estudantes de arquitetura do Brasil.
Raquel Schenkman falou sobre como o IAB surgiu em 1943, a partir de uma reunião de arquitetos que atuavam na época; ainda não existiam as faculdades de arquitetura, como a FAU-USP e o Mackenzie. Na década de quarenta a arquitetura começa a se colocar no debate público do Brasil e, também, a se expôr. A famosa exposição Brazil Builds ocorreu no mesmo ano da criação do IAB São Paulo. Em 1947 é realizado um concurso para a sede do IAB, e ele se torna, então, um espaço de sociabilidade importante. As primeiras reuniões aconteceram no porão do edifício Ester. Com o concurso, o IAB passa a ter sede própria.
Os convidados contaram que, nessa época, surgiram museus e outros espaços dedicados à arte e à cultura. “Havia muita troca intelectual e efervescência nas artes, na cultura e no debate público.”
Os três explicaram que O IAB é um só, mas possui os seus departamentos autônomos. Praticamente todos os estados da federação têm um IAB ativo; o estatuto rege o pensamento e as ações do Instituto de Arquitetos do Brasil. Segundo Raquel Schenkman, “o IAB tem a preocupação com a agenda cultural e social da cidade, além de pensar e procurar uma arquitetura para todos e todas.”

A atual gestão do IAB em São Paulo começou em janeiro de 2023 e os novos grupos de trabalho foram responsáveis por pensar a programação em comemoração aos 80 anos do IAB, levando em conta temas como emergência climática, equidade racial e corpo, sexualidade e arquitetura.
Outro tópico da conversa foi o móbile Viúva Negra, do artista Alexander Calder. A obra está voltando para o IAB após um período de restauro. “O móbile foi um presente dado para o IAB lá na sua fundação, antes mesmo do prédio ter sido concluído”, explica Victor. Na década de quarenta, Eduardo Nise de Melo, o primeiro presidente do IAB em São Paulo, estava envolvido na criação de diversos museus, da Biblioteca Mario de Andrade e até da Bienal de Artes, que ocorria junto com a Bienal de Arquitetura. Ele atuava junto aos movimentos culturais e recebeu o móbile.
Atualmente, o IAB organiza muitas exposições e o Viúva Negra compõe o espaço, que está sendo ajustado para que a peça possa ser bem cuidada. Depois da restauração em Nova Iorque, o móbile está na reserva técnica do MAC.
“O desafio é lidar com o móbile nesse espaço que não é museológico.”
Victor Próspero abordou a relevância do acervo documental, parte constituinte do IAB. “Conversamos muito sobre montar uma exposição a partir do acervo, para valorizar o passado e pensar o futuro.”
Os debates decoloniais também passaram a estar mais presentes no IAB, e Kaísa Isabel comentou que muitas arquitetas do IAB são egressas de políticas públicas - o que pede um olhar não só para a raça, mas também para a classe social. O IAB sempre teve um rosto único para os arquitetos, e essa visão é muito enraizada. Gradativamente, essa face está mudando.
“As mudanças em prol da diversidade acontecem passo a passo, é sempre um processo.”
O potencial da Bienal de Arquitetura para expandir o universo da arquitetura para um público mais amplo também foi tema da conversa. A Bienal é organizada pelo IAB e a última edição, segundo Raquel, trouxe o debate sobre equidade racial de forma forte. “A Bienal teve uma interface com a cidade, pois além dela ter acontecido no Sesc Paulista e no Centro Cultural São Paulo, esteve presente no Quilombaque, um museu territorial na região de Perus.” Em relação à Bienal, Kaísa deu um spoiler para a próxima edição, que ocorrerá em 2025: Clima e Cidade.
O episódio 82 do Betoneira Podcast está no ar!
Quem são os convidados: Raquel é mestre e graduada pela FAU-USP, é docente do Departamento de Arte da PUC-SP e também servidora da Prefeitura de São Paulo desde 2012 no Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura. Kaísa é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Braz Cubas, trabalha com autonomias em diferentes esferas e em Arquitetura e Urbanismo atua na área de Acessibilidade desde 2007. Tem especialização em Políticas Públicas pela Universidade Cândido Mendes (2019) e MBA em Negócios pela ESALQ USP (2022). Victor é Arquiteto e Urbanista formado pela FAU-USP. Doutorando na área de História e Teoria da Arquitetura pela mesma instituição (2017-2023), com apoio Fapesp, desenvolve pesquisa sobre as relações entre arquitetura e ditadura militar no Brasil.