O potencial do design brasileiro
Marcelo Rosenbaum fala do seu trabalho com as comunidades tradicionais, do seu lado comunicador e do desejo de se transformar em um arquiteto de pontes
O convidado do episódio 57 do Betoneira é o designer Marcelo Rosenbaum, nome conhecido de muita gente. Isso porque Rosenbaum trabalhou em programas de grande audiência, levando o design para pessoas de baixa renda do Brasil todo. No quadro Lar, Doce Lar, do programa dominical Caldeirão do Huck, seu desafio era dar forma ao sonhos das famílias. Desde criança, ao passar por uma obra em algum terreno do seu bairro, o designer gostava de imaginar quem seriam as pessoas que morariam na futura casa. Esse era seu passatempo. Vidas humanas sempre estiveram no centro do seu interesse pela arquitetura e pelo design.
“Eu adorava entrar nas obras e imaginar os personagens que morariam lá.”
Marcelo Rosenbaum começou a trabalhar cedo, e uma das marcas do seu trabalho, valor fundamental que ele leva a todos os projetos, é a colaboração, a co-criação e a democratização do design e da arquitetura. Rosenbaum conta que no quadro Lar, Doce Lar, ele atendeu famílias que moravam em espaços minúsculos, sem luxo algum. Seu desafio era tratar as casas com dignidade, melhorando a experiência dos moradores. O designer brinca que, na época, muita gente achava que ele fazia mágica, tamanha a precariedade de alguns espaços atendidos. Uma parte fundamental do trabalho também era entender como a família poderia manter a reforma depois de sua saída, ou seja, soluções que aumentassem a conta de energia elétrica, por exemplo, não eram as melhores opções.
“A maioria das casas do Brasil não têm a porta de segurança nem a porta da privacidade, é uma casa aberta com condições precárias, muitas vezes sem saneamento.”
Na conversa Rosenbaum destaca um episódio em especial: um quarto com tema “sapos” para um menino. A reforma emocionou a família toda. Segundo o designer, entender as relações humanas e gerar alegria genuína transformaram toda a experiência do Lar, Doce Lar em uma grande escola.
Outro projeto abordado foi a reforma na escola-fazenda Canuanã, em Formoso do Araguaia, no Tocantins. Junto com o escritório Aleph Zero, Rosenbaum construiu uma moradia infantil que atende mais de 1.200 crianças, em regime de internato. O projeto foi premiado e chamou a atenção pela alta tecnologia aliada ao respeito à cultura e aos materiais locais. Ele ressalta o processo criativo e a metodologia do projeto, que contou com a colaboração da comunidade e dos estudantes do internato. Foi feita uma imersão de 20 dias em Canuanã, com as crianças.
A cada dia Marcelo Rosenbaum e os arquitetos do Aleph Zero ficavam com 50 crianças e jovens, criando processos para pensar a reforma com eles e para eles. O projeto foi desenhado nesses 20 dias com os estudantes, a partir da condução de Rosenbaum. Algumas práticas pediam para que as crianças e jovens movessem o corpo no espaço. Eles deveriam contar como imaginavam os quartos e espaços comuns. O designer ressalta que a Fundação Bradesco, responsável pela escola, permitiu que ele tivesse autonomia total. O resultado é uma obra impactante que ganhou diversos prêmios no Brasil e no mundo.
“A cobertura da escola-fazenda vem da referência da oca, das casas tradicionais.”
Depois de contar sua experiência de mais de dez anos com as artesãs de palha em Várzea Queimada, no sertão do Piauí - povoado com cerca de 900 habitantes e escassez de água - Rosembaum falou sobre seu conceito de Design Essencial. Trata-se de olhar para uma comunidade e potencializar os saberes através do design, lembrando sua verdadeira vocação.
“Design não é só desenho, a etimologia da palavra traz o conceito de desígnio.”
Rosenbaum diz que em determinado momento da história, o ser humano não quis mais sentar no chão e designou-se a necessidade de desenhar um banco. Já o desígnio da casa, por exemplo, é proteger das intempéries. O trabalho de escuta e troca com os diferentes povos, sejam eles indígenas, quilombolas ou sertanejos, tem o objetivo de resgatar os desígnios dos objetos e as histórias da comunidade. Uma conversa inspiradora!
O episódio 57 do Betoneira Podcast está no ar!
Para ouvir pela Apple e outros agregadores, clique aqui.
Quem é Marcelo Rosenbaum: Cursou design na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, passou uma temporada na Alemanha e ao longo de décadas de trabalho vem democratizando as conversas sobre design e arquitetura. À frente do escritório Rosenbaum de Arquitetura e Design, Marcelo abraça projetos que criem identidade para espaços e espaços para pessoas, propagando a voz de comunidades tradicionais. Interligando antropologia e geografia, arte e política, ele acredita no potencial do design e da arquitetura para promover inclusão social e transformação. Também criou o instituto A Gente Transforma, resgatando saberes das comunidades tradicionais brasileiras. O objetivo do A Gente Transforma é impactar a sociedade como um todo, a partir da visão integrada de saberes de ontem e hoje.