O Balcão da Cidade
Chico Millan falou sobre a trajetória de um dos bares mais icônicos de São Paulo
O Bar Balcão é um dos bares clássicos de São Paulo. Aberto há mais de trinta anos, ele é frequentado por artistas, intelectuais, cartunistas, escritores, funcionários públicos, arquitetos e muito mais. O Balcão é diverso e inspirador!
Chico Millan e Ticha Gregório são sócios e tocam o bar juntos há anos. Chico começou a conversa contando sobre o icônico balcão do bar, inspirado no balcão em forma de ferradura do Longchamp, extinto bar na região da Consolação. A outra inspiração, segundo Chico, é o clássico balcão de padaria. “Nele se fala sobre tudo, desde piadas até comentários políticos.” Chico valoriza a convivência nesse estilo de padaria, sem ser forçada, tranquila. “O balcão daqui estimula a convivência e a troca e foi construído em uma marcenaria em Ubatuba. “
Os duros meses da pandemia foram tema da conversa com Chico Millan também. Nesse período os bares e restaurantes ficaram fechados e as pessoas se deram conta da importância desses espaços na cidade. “A experiência da pandemia foi muito difícil e o retorno foi progressivo.” Chico comentou que houve uma mudança de comportamento das pessoas, elas adiantaram seus horários. Em vários dias o Balcão fechou às onze da noite, e só agora está voltando a funcionar até uma da madrugada.
O bar tem uma clientela fiel, pois muitas pessoas contaram para o Chico que o primeiro lugar que eles visitaram depois do isolamento foi justamente o Balcão.
Em julho de 2023 saiu a notícia de que o Balcão poderia fechar. Isso porque o imóvel seria vendido para uma incorporadora que estava comprando várias casas e apartamentos no entorno. A notícia causou muita comoção e os frequentadores se manifestaram nas redes sociais; foi feito um abaixo assinado e muita gente se posicionou contra o fechamento. Chico falou sobre a emoção que sentiu com a mobilização dos frequentadores, que conseguiram mais de 6 mil assinaturas em uma semana. Recentemente o Balcão recebeu uma notícia positiva: a incorporadora não conseguiu comprar um dos apartamentos - a papelada estava com problemas - e o empreendimento, portanto, não avançou. “Em algum momento se tentou uma saída em comum; se o projeto fosse em frente, falamos do Bar continuar.”
Muitas pessoas se conheceram no bar, inclusive solteiros que se casaram tempos depois. Uma frequentadora do Balcão, funcionária aposentada da Prefeitura, sugeriu que o Balcão fosse tombado como patrimônio histórico. “Em uma cidade que se destrói sistematicamente, se você não tomba aos trinta anos, você não tem nada que tenha cem anos”, Chico pontuou.
Chico relembrou o Pandoro e o Supremo e falou dos bares como instituições culturais; “eles tinham a personalidade dos seus frequentadores”. Além disso, comentou como o entorno e a cidade mudaram muito nesses trinta anos de bar. “A Avenida Rebouças, por exemplo, tinha quatro pistas de automóveis, depois vieram as pistas para os ônibus; também não era permitido ter comércio lá.” O entrevistado revelou um aspecto curioso do bar: o som nunca incomodou a vizinhança porque o barulho da Avebida Rebouças, logo atrás, “suga” todos os agudos e barulhos gerados pelo estabelecimento.
A conversa terminou com Chico falando sobre os quadros e obras de arte expostas nas paredes do Balcão, um bar com vocação artística. Seu pai foi marchand, assim como seu irmão, e as artes visuais sempre foram presentes, além da literatura. Há lançamentos de livros no bar semanalmente, reunindo quem gosta de celebrar e vida e a arte.
O episódio 86 do Betoneira está no ar!
Quem é Chico Millan: Um dos sócios do Bar Balcão, Chico toca o negócio há mais de trinta anos e presenciou diversas histórias no bar. Viu a mudança do bairro de perto e passou por um momento tenso em 2023, com a ameaça de fechamento do Balcão por conta de um empreendimento imobiliário.
O músico Caíto Marcondes fez uma música em homenagem ao Balcão! Antes de fechar a newsletter, dá o play! 🎵🎵🎵