“Lelé se forma no Rio e vai para a construção de Brasília como um candango, um operário, um arquiteto recém-formado. Ele aprende no canteiro – fazendo, tendo que perguntar a poucos e intuir muito. E, com isso, se aperfeiçoa como construtor” Anália Amorim
“Os projetos do Lelé andavam junto com a obra. Obviamente, existia um cronograma, mas os detalhes iam acontecendo no processo. E era preciso ter um controle muito grande dessa produção: pré-fabricar e ter velocidade, mas sem o projeto final pronto” Valdemir Rosa
Com uma obra marcadamente social e voltada para o uso público, João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, se tornou um dos grandes nomes da arquitetura brasileira. Em 60 anos de carreira, construiu hospitais, escolas, terminais e abrigos para ônibus, tribunais, secretarias e outras sedes administrativas.
Em todos eles, reuniu o zelo pelos materiais e pela mão de obra, qualidade técnica e artística. Compreendeu como poucos como utilizar a luz e a ventilação naturais em prol da economia energética e do bem-estar dos usuários.
Neste episódio do Betoneira Podcast, os arquitetos e professores Anália Amorim e Valdemir Rosa comentam o contexto em que Lelé desenvolveu seu trabalho e quais foram suas principais contribuições.
Juntos, Anália e Valdemir são curadores da exposição "Lelé: um projeto de Brasil", em cartaz até 20 de maio na Escola da Cidade, em São Paulo. A entrada é gratuita.
A mostra comemora os 90 anos do arquiteto, morto em 2014, e também os 20 anos do curso de graduação em arquitetura e urbanismo da instituição.
“A exposição é para mostrar um arquiteto que, no século 20, já estava pensando no século 21” Valdemir Rosa
“É um tributo que todos nós, arquitetos, temos que fazer para a continuação desse humanista. O Lelé é uma síntese da profissão que nos interessa muito, que nos acalenta e que nos nutre” Anália Amorim
Na conversa, os curadores falam sobre suas principais realizações, como a rede Sarah de hospitais, e também sobre as frustrações que envolveram uma série de projetos que não foram concluídos.
“Quem acompanhou a vida do Lelé sabe que ele morre mais cedo porque estava submetido sempre a projetos interrompidos pelo poder público. O câncer que consome o Lelé é o câncer que consome todos nós, que queremos um Brasil que tenha cadência e continuidade” Anália Amorim
Mas, ainda que não tenha implementado inteiramente seu projeto de Brasil, Lelé deixou como legado profissionais dispostos a seguir seus ensinamentos.
“Um país não se faz em tão pouco tempo. Mas os conceitos foram construídos, tecidos, e estão extremamente claros. Quando quisermos inspiração, não começaremos do zero. Isso é um patrimônio avolumado por todo o trajeto do Lelé” Anália Amorim
O episódio 36 do Betoneira Podcast está no ar!
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Quem são Anália Amorim e Valdemir Rosa: Formada pela Universidade Federal de Pernambuco, Anália é mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP) e doutora pela FAU-USP, onde é professora. Valdemir é graduado na PUC-Campinas, especializado em pesquisas e projetos com pré-fabricação, e gerenciou a Fábrica de Escolas em Campinas, nos anos 1990, coordenada pelo Lelé. Os dois são professores na Escola da Cidade e coordenadores do programa de pós-graduação Conceber e Construir, sobre estruturas leves e pré-fabricação.