O artista Zezão tem uma longa história de criação com as cidades, em especial com os espaços públicos e as zonas subterrâneas. Zezão começou a grafitar no início dos anos 90, por conta de uma depressão. O grafite e a arte urbana, na época, sofriam repressão e não tinham o reconhecimento que têm hoje.
“O grafite me trazia paz.”
Com o grafite Zezão passou a se aprimorar como artista, além de descobrir lugares inabitados e pouco vistos pelos moradores da cidade. “Sempre me encantei por lugares inusitados.” Aos poucos ele foi querendo conhecer cada vez mais a cidade e ocupar com seu grafite as vias subterrâneas. Nesses ambientes não há luz e Zezão precisou, muitas vezes, usar lanterna. A partir das suas intervenções o artista mostrou aos próprios moradores da cidade lugares que eles não conheciam, como as bocas de esgoto, por exemplo.
Zezão explicou que a cultura do grafite é uma apropriação do espaço urbano e da arquitetura; a ideia é ocupar a cidade, colori-la e preencher seus muros, ruas, vielas e até tampas de bueiro.
“As tampas de bueiro parecem brasões super bonitos”.
Segundo Zezão, pintar nos bueiros passa a mensagem de que a arte está saindo do subterrâneo, de baixo. Zezão tem 52 anos e contou que há 28 anos faz esse trabalho; no início da carreira ele descobria os lugares por meio das viagens que fazia como motoboy, circulando pelos bairros. Nas folgas do trabalho ele descobria a cidade por meio dos seus passeios de bicicleta.
O artista nasceu e foi criado na região do Brás, em São Paulo, e foi a partir desse bairro que desenvolveu relação com o Canindé, Pari, Mooca, Ipiranga. “Escolhi começar a grafitar nos lugares que são decadentes e esquecidos, com lixo acumulado. Foi uma escolha intencional, sempre fui em busca de lugares não convencionais.” Zezão também ressaltou sua opção pela quantidade, e não tanto pela qualidade, ou seja, em um mesmo dia chegava a fazer seis grafites diferentes - ao invés de ficar dias pintando um só. Zezão tem trabalhos em diversos bairros, tanto os mais centrais quanto os periféricos, em casas de madeira, por exemplo.
O artista também é contratado para pintar dentro de residências privadas, e, em geral, pensa em como instalar sua arte sem desrespeitar o trabalho do arquiteto que projetou a casa. “Sempre estudei a melhor maneira de intervir nos espaços, para criar, de fato, uma composição.” Zezão também é partidário do ‘menos é mais’. Às vezes a pintura deve ser um detalhe dentro de uma casa, e não algo que vá roubar muito a atenção.
Segundo ele, seu processo sempre foi intuitivo; ele começa um desenho sem saber exatamente como vai acabá-lo. Há um elemento de abertura e fluidez que é importante em seu processo criativo; não há um planejamento rígido. Para as empenas dos edifícios, entretanto, houve um planejamento, ou seja, Zezão fez um desenho prévio. “Em um projeto dessa escala eu usei o video mapping, pois não consigo recuar no espaço para observar o andamento da pintura e decidir para onde o desenho vai.”
No começo dos anos 2000, Zezão usava látex e rolinho para grafitar. Há cerca de cinco anos ele usa só spray, pois conta com um patrocínio de uma marca. Black tape, estilete e tinta acrílica também são materiais que ele utiliza nas pinturas indoor. “O grafite é uma arte efêmera e o artista precisa estar preparado para as transformações que ele sofrerá, desde os efeitos da poluição e da chuva até prefeitos que decidem apagar os desenhos.” Nesses anos todos de trabalho, Zezão teve muitos de seus grafites apagados. Alguns, felizmente, permaneceram.
Zezão também falou sobre o uso da cor azul, sobre suas viagens para fora do Brasil e sobre a cena atual do grafite, que está mais inclusiva, procurando grafiteiros de diferentes raças e gêneros.
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Quem é Zezão: Nosso convidado de hoje é o artista José Augusto Amaro Randa, mais conhecido como Zezão. Nascido e criado em São Paulo e artista autodidata, Zezão começou a grafitar na década de 90 e, desde então, tem deixado seus vestígios por diversas cidades do Brasil e do mundo. Seu trabalho pode ser visto principalmente em paredes internas de galerias pluviais subterrâneas e saídas de esgoto, além de prédios e calçadas da cidade.