Cidade cenográfica, uma conversa com Vera Hamburger
Recebemos a diretora de arte e cenógrafa para discutir de que forma profissionais como ela se apropriam do espaço urbano para fazer cinema
“Quando projetamos, seja como arquiteto, cenógrafo, ou diretor de arte, estamos construindo um espaço para se relacionar com o outro.”
Reais ou imaginadas, casas e cidades estão sempre presentes no cinema. No episódio 49 do Betoneira Podcast, recebemos a diretora de arte e cenógrafa Vera Hamburger para discutir de que forma profissionais como ela se apropriam do espaço urbano para criar ilusões, atingir o imaginário das pessoas e fazer nascer a mágica do cinema.
Formada em Arquitetura e Urbanismo, Vera comenta que a experiência na FAUUSP foi essencial para o seu trabalho, já que, segundo ela, a direção de arte e a cenografia são trabalhos que lidam com os mesmos instrumentos que a arquitetura, como volumetria, superfície, os signos, os símbolos etc. O trabalho que ela exerce lida com percurso, com o fazer do corpo no espaço, então está intimamente ligado com a arquitetura e até mesmo com o urbanismo, no sentido de pensar o desenho das cidades, e nem tanto o planejamento.
“A FAU deu uma base muito interessante para o meu trabalho, não só do ponto de vista instrumental de desenho técnico, mas do ponto de vista da formação do pensamento de projeto mesmo.”
Vera também nos conta que é uma delícia ocupar o espaço da cidade e, ao mesmo tempo, um desafio, já que de certa maneira a equipe acaba atrapalhando a rotina das pessoas que vivem ali.
E lembra de alguns trabalhos, como o filme "Brincando nos campos do senhor", de Héctor Babenco, em que uma cidade cenográfica inteira é construída; ou o Castelo Rá-Tim-Bum, em que a ideia proposta é a de um castelo fantástico dentro da cidade de São Paulo; e ainda o "De onde eu te vejo", em que o edifício Louveira, de Vilanova Artigas, tem grande destaque na construção da história.
"O desenho do espaço é um agente provocador, tanto na arquitetura quanto na cenografia."
Quando a questionamos sobre o fato de, hoje em dia, muitas pessoas assistirem a filmes e séries pelas telas de celular e computadores, numa dimensão muito menor do que das salas de cinema, Vera afirma que seu papel é garantir a imersão do espectador, independente do tamanho da tela, garantir que aquele espectador fique completamente mergulhado no que está assistindo.
"Quando projetamos, seja como arquiteto, cenógrafo, ou diretor de arte, estamos construindo um espaço para se relacionar com o outro."
O episódio 49 do Betoneira Podcast está no ar!
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Quem é Vera Hamburger: Formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP em 1989, a diretora de arte e cenógrafa atua em cinema, teatro, dança, ópera e exposições desde 1985, além da intensa atividade em pesquisa e ensino sobre direção de arte e cenografia. Entre cinema e séries participou da realização de obras como Ó paí, ó, Carandiru, De onde eu te vejo, Castelo Rá-tim-bum, o filme, entre outras.
Mestre em Artes Cênicas e, atualmente, doutoranda em Arquitetura, é autora do livro Arte em cena, a direção de arte no cinema brasileiro, laureado no Prêmio Jabuti de 2015, e curadora do site sobre vida e obra do arquiteto, cenógrafo, figurinista, artista visual e professor Flávio Império.
Este episódio conta com patrocínio cultural do Archtrends. Ouça o Archtrends Podcast no Spotify ou no YouTube.