A expografia da 35ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo
O escritório Vão falou sobre as ideias e conceitos por trás do projeto
A expografia da 35ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, chamada de Coreografias do Impossível, foi feita pelo premiado escritório de arquitetura Vão, formado por Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero. Anna Juni contou que eles foram convidados para uma conversa, cerca de um ano atrás, junto com nove outros escritórios. Dessa conversa, a organização da Bienal selecionou três escritórios para realizar um concurso.
Na época, eles só tinham o texto curatorial que embasava conceitualmente a Bienal. A equipe, então, fez uma provocação criativa para os três escritórios: como vocês vão concretizar essa proposta conceitual? A 35ª Bienal tem um forte caráter decolonial e valoriza a poesia, a transformação e a possibilidade de corpos e movimentos impossíveis, abraçando, assim, o paradoxo.

“Procuramos apontamentos que poderiam ser concretizados espacialmente.”
O grupo teve como ponto de partida o manifesto produzido pelo quarteto de curadores (Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel) e o texto Um parque e um país sob a marquise, onde o arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Luís Antônio Jorge fala sobre a importância da grande marquise do parque Ibirapuera e sua ligação com o edifício da Bienal.
Oscar Niemeyer é o nome que construiu a maioria dos prédios públicos em Brasília, e, de certa forma, é também um símbolo de poder. “O que seria, então, para a proposta fortemente decolonial e horizontal da Bienal, estar no Pavilhão, projetado por Niemeyer?”, disse Anna Junni. A provocação criativa mexeu com os integrantes do Vão, que começaram a pensar possíveis respostas.
No texto curatorial havia uma ideia de “fazer um convite às imaginações radicais”, e, segundo o trio de arquitetos, eles decidiram levar o convite ao pé da letra. A primeira proposta apresentada consistia em realizar a Bienal na marquise do Parque Ibirapuera. Dessa forma, a Bienal seria literalmente horizontal e o Pavilhão, por sua vez, seria aberto para o skate, os passeios, etc - ou seja, para todas as ocupações que ocorrem na marquise. A curadoria adorou a proposta, mas disse que seria impossível fazê-la. Pediram, portanto, para que o Vão levasse para dentro do Pavilhão o peso conceitual da ideia inicial.
Anna, Gustavo e Enk fizeram uma visita ao Pavilhão vazio, junto com os curadores, para observar o espaço e conversar com eles.
“A relação de escala do edifício, sem nada dentro, é muito impressionante.”
Anna Junni disse que não é fácil pensar um projeto para o Pavilhão e, quando eles entenderam que a proposta teria que ser ali, decidiram que a postura do escritório seria a de uma contradança. “Convidamos o edifício para dançar junto.”

Romper a métrica do Pavilhão e criar movimentos de respiro e de ruptura no uso do espaço foram algumas das ideias que surgiram para Anna Junni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero. O fechamento do vão do Pavilhão, a partir de materiais das expografias anteriores, concretizou novas possibilidades do uso do espaço e, ainda, acentuou as curvas do desenho de Oscar Niemeyer. O trio de arquitetos contou que eles receberam um documento importante durante o processo de trabalho: o arquivo histórico da Bienal, com todas as expografias já realizadas. Eles estudaram esses trabalhos e entenderam que a proposta deles estava dentro de uma história maior.
A 35ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo conta com 121 artistas e a curadoria apresentava qual seria o conteúdo e a forma de cada artista para Anna, Enk e Gustavo. “Precisávamos conhecer um pouco a obra dos artistas para propor um espaço e, também, as aproximações possíveis.” O Vão realizou diversos “estudos de vizinhança”, pois a curadoria estava interessada nas reverberações de cada artista, e não necessariamente em setorizá-los em núcleos temáticos ou de nacionalidades, criando guetos. “Queríamos aproximações sensíveis”, Gustavo Delonero contou.

“Nossa proposta não é um ataque nem uma homenagem; a expografia quer se amalgamar com o projeto de Oscar Niemeyer.”
A 35ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo vai até dia 10 de dezembro, no Parque Ibirapuera. Para horários e outras informações, este é o link.
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Quem é Vão: Fundado em 2013 por Anna Junni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero. Os três se formaram no Mackenzie e realizam projetos transdisciplinares envolvendo principalmente arquitetura e artes visuais. O Vão explora escalas tão diversas quanto instalações artísticas e arquiteturas residenciais, passando por equipamentos culturais, estabelecimentos comerciais e escritórios. A originalidade de seus projetos garantiu o Prêmio Début na Trienal de Lisboa de 2022.