A arte salva, uma conversa com Paulo Vieira
O ator, escritor e apresentador de televisão fala sobre arquitetura, claro, a importância da educação e das políticas públicas e seus próximos projetos. Imperdível!
O ilustre convidado do episódio 48 do Betoneira Podcast é o ator, escritor, humorista, roteirista, compositor, cantor e apresentador de televisão (ufa!) Paulo Vieira. Com humor e sagacidade, ele fala de assuntos sérios, como a importância da educação e da arte como instrumentos geradores de novos futuros possíveis para as pessoas desse país e sobre sua relação com a arquitetura, é claro.
Veja, a seguir, alguns trechos da conversa:
ARQUITETURA
“O meu interesse pela arquitetura veio da ausência dela na minha vida, da falta que ela fez, e do distanciamento que existe no discurso do povo, que diz que 'arquitetura é coisa de rico'. Eu sou um cara abusado, então tudo que não é para mim, eu quero, eu quero ver se não é para mim mesmo.”
“Embora eu não tivesse repertório filosófico, eu sempre refleti sobre isso: um prédio altera – porque me alterava – o humor das pessoas. Ele transforma a vivência da pessoa ali na cidade.”
LEI DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA
“Quando eu soube dessa lei, eu comecei a pensar nos lugares que eu já tinha morado, nas situações horríveis pelas quais eu passei e pensei 'cara isso poderia ter sido diferente'. A pessoa não faz um banheiro melhor porque ela não quer ou porque aquilo não é importante, mas porque ela não pode, não tem dinheiro para aquilo. Se você der acesso, as pessoas querem.”
“Essa campanha tem que ser uma campanha nacional, ela tem que passar na Globo de minuto em minuto, para que as pessoas se conscientizem e lutem por esse direito. Parte da minha adolescência, o meu grande sonho era morar em uma casa rebocada. E quando isso aconteceu, foi a primeira vez que eu senti que eu morava em uma casa oficial. A sensação de pertencimento que eu tive... Eu queria que a professora marcasse trabalho de escola e eu queria que o meu grupo tivesse 45 pessoas para todo mundo ver que finalmente eu estava morando numa casa que tinha forro e que era rebocada.”
“A arquitetura melhora a vida das pessoas. Então a quem interessa deixar esse bem restrito a um grupo de pessoas, se não àquele grupo de pessoas?”
SÃO PAULO
“Hoje eu já me sinto em casa em São Paulo, e foi muito doido para mim processar isso porque eu me sentia traindo a minha terra. E quando você vai na casa dos seus pais e você fica com vontade de ir embora? Você pensa assim: 'ué, mas aqui não é a minha casa? Por que eu quero ir embora da minha casa?' E aí é quando sua cabeça entende, 'é porque aqui não é mais a minha casa'.”
AVISA LÁ QUE EU VOU
“Para mim, como artista, foi um programa de muita descoberta pessoal, de entender o tipo de ser humano que eu quero ser. Existe uma demanda sobre mim, que é uma demanda de humor, e nesse programa eu entendi a minha própria demanda: 'o que é mais importante pra mim, é o humor ou é o afeto?'. Então imediatamente o briefing mudou, a gente não foi fazer um programa de humor, a gente foi fazer um programa de afeto, um programa para encontrar pessoas.”
ESSÊNCIA
“Eu tô na Globo há um tempo, mas eu quero sempre me comportar como um alien na Globo, como se eu tivesse acabado de chegar. Eu não quero nunca me acostumar com aquilo, porque eu preciso carregar o pensamento das pessoas que eu quero representar, e com quem eu quero falar. A partir do momento que eu for assimilado por toda essa estrutura, eu vou desaparecer.”
SONHOS
“Eu sou um adulto que bota em prática os sonhos infantis. Eu tenho uma teoria de que tudo que eu tenho é minha criança que me deu. As minhas ideias mais criativas, aquilo que eu faço de mais legal e mais bonito, é tudo serviço da criança.”
MUSEU E EDUCAÇÃO
“Eu sempre quis fazer um museu porque desde criança sou muito revoltado com o fato de Palmas não ter um museu de arte, só alguns museus de história. E eu tive um pensamento quando eu era criança que é de que o museu de história olha para o passado para você entender o presente. É importantíssimo. Mas o museu de arte te dá perspectivas de futuro, ele te dá repertório de futuro. E eu achava muito doido viver num estado que não te dá futuro. Eu pensava 'como que eu posso crescer num lugar que não me dá futuro?' Então desde muito cedo eu pensei 'eu preciso fazer um museu aqui'.”
“A arte é uma energia muito poderosa, ela tem uma energia transformadora. E enquanto energia transformadora ela precisa estar em movimento. Então eu quero que o Museu de Arte do Tocantins seja não só um museu, mas uma escola. A gente tem que estar com a casa lotada de criança aprendendo, tendo a vida impactada pela beleza. O museu como um lugar de educação.”
“Num país com tanta desigualdade quanto o nosso, onde as pessoas têm abismos de informação, a gente precisa o tempo todo criar pontes.”
POLÍTICAS PÚBLICAS
“Toda a minha formação como artista foi graças a políticas públicas, porque eu não venho de uma família erudita, minha família não tem um repertório cultural abrangente. Então o governo tomou as rédeas, como tem que ser, e tratou de complementar a minha educação. Tudo aquilo que faltava na minha família, o governo veio e fez possível, me deu acesso a essas coisas, como tem que ser num país desigual como o nosso.”
O episódio 48 do Betoneira Podcast está no ar!
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Quem é Paulo Vieira: ator, escritor, humorista, roteirista, compositor, cantor e apresentador de televisão. Ele acaba de lançar seu primeiro livro infantil O dia que a árvore do meu quintal falou comigo (HarperKids, 2022), apresenta o programa do GNT Avisa lá que eu vou, e estreou na série Novelei, no canal da TV Globo no YouTube.
Este episódio conta com patrocínio cultural do Archtrends. Ouça o Archtrends Podcast no Spotify ou no YouTube.